CASA EM SANTA ISABEL, LISBOA

MIES VAN DER ROHE AWARD 2024 NOMINATION

Santa Isabel é uma freguesia de Lisboa, localizada junto ao romântico Jardim da Estrela. A estrutura urbana deste bairro foi projetada no século XVIII, quando as cercas de vários conventos e mosteiros foram demolidas para criar novas parcelas urbanizáveis. Ao longo do século XIX, a imagem da cidade foi mudando, com novas ruas e edifícios residenciais, projetados por especuladores imobiliários, seguindo as tipologias e soluções correntes da época.
A área de intervenção resultou deste processo. Um antigo edifício de dois andares, do século XIX, apresentava-se com a estrutura de madeira danificada e em risco de colapso interno devido às sucessivas transformações ocorridas ao longo dos anos. O projeto atendeu a um programa de moradia unifamiliar, com o objetivo de alcançar uma expressão arquitetónica intemporal. O desenho partiu do edifício existente, integrando partes da antiga fachada na morfologia renovada, que recebeu um novo piso.
O conceito da intervenção assentou na manipulação das proporções e detalhes, pretendendo inscrever as opções arquitetónicas no sentido de continuidade da transformação da própria cidade. Os elementos preservados estruturaram a nova composição, contribuindo para diluir a expressão temporal da intervenção na imagem arquitetónica do edifício.
As novas janelas, encerradas por portadas de madeira, foram colocadas no limite interior da fachada. As portas da garagem, em aço, são coplanares com a fachada. A cor cinza clara envolveu toda a composição. A porta de entrada, pintada num tom mais escuro e o teto de madeira da trapeira, criam uma vibração sutil no conjunto.
A organização interna foi ajustada à topografia existente. No piso acima da garagem e do hall de entrada, a área social da casa abre-se para um pátio revestido a azulejos de cor caramelo. Esta área é composta por dois níveis, um deles corresponde à sala de estar, em ligação direta com o pátio, o outro integra a cozinha e a sala de jantar, esta última com pé-direito duplo no centro da casa. O espaço, foi concebido como uma estrutura tridimensional, que relaciona o volume interior da casa com o vazio do pátio.
Os tetos em betão aparente resultantes de cofragem em tábuas de madeira, estabelecem, através da sua textura, uma relação com o antigo sistema de madeira utilizado na construção original. A luz interna é filtrada pelas superfícies das paredes, pavimentos e tetos, produzindo uma experiência misteriosa e tranquila
A sequência dos espaços interiores é fluida, evitando compartimentos rígidos. Os degraus em lâminas de madeira contribuem para reforçar esta ideia, proporcionando uma ligação transparente em toda a habitação.
Os corredores foram produzidos como parte do programa, permitindo a realização de atividades informais. A estante situada no 2º piso, é um desses espaços, pensado ​​como uma pequena biblioteca que comunica com a sala de jantar por uma janela interna.
A trapeira do 3º andar cobre um espaço amplo, que se estende até uma varanda, onde é possível ver o rio Tejo. O espaço integra uma estante de livros e um piano, sugerindo a atmosfera de um sótão pairando sobre a cidade.

Arquitetura Paulo Tormenta Pinto e Rosa Maria Bastos
Colaboração Ivone Gonçalves, Pedro Baptista Coelho e Joana Moreira
Estruturas Miguel Villar
Hidráulicas Andreia Cardoso e Rita Duarte
Electricidade Telecomunicações Rúben Sobral
AVAC  Galvão Teles
Acústica  Palma Ruivo
Paisagismo  Carlos Ribas
Construção   Reinaldo Aguiar e José Venâncio
Fotografia Inês d’Orey